segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor, e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes. Gastámos tudo menos o silêncio. Gastámos os olhos com o sal das lágrimas, gastámos as mão à força de as apertarmos, gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada. Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro! Era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes! e eu acreditava. Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis. Mas isso era no tempo dos segredos, no tempo em que o teu corpo era um aquário, no tempo em que os meus olhos eram peixes verdes. Hoje são apenas os meus olhos. É pouco, mas é verdade, uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras. Quando agora digo: meu amor..., já se não passa absolutamente nada. E no entanto, antes das palavras gastas, tenho a certeza de que todas as coisas estremeciam só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração. Não temos já nada para dar. Dentro de ti não há nada que me peça água. O passado é inútil como um trapo. E já te disse: as palavras estão gastas

Eugenio de Andrade

o veneno cura

O amor fere, o amor cura. O amor é curarmo-nos dos afectos onde dói mais...
Há um momento em que todos nos cruzamos. Na noite escura. quando perdes tudo o que há para perder, o que é que te faz continuar? o teu pior? o teu melhor? o que te impede de te atirares da ponte na primeira oportunidade? o que és capaz de fazer para sobreviver à mais terrível das dores? amas com as tripas de fora. o que és capaz de fazer por amor? como é que sobrevives com o coração partido? Quanto tempo dura um sentimento? Tem prazo? Já morreste de amor? Não se pode viver sem amor. O amor salva. O amor mata. O amor cura.


texto extraido da sinopse do filme "Veneno Cura"

terça-feira, 17 de agosto de 2010

e eu que o diga!

"Se você pensa que é muito pequeno para fazer a diferença, tente dormir em um quarto fechado com um mosquito." - provérbio Africano

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Serra!
E qualquer coisa dentro de mim se aclama...
Qualquer coisa profunda e dolorida,
Traída,
Feita de terra
E alma.
Uma paz de falcão na sua altura
A medir as fronteiras:
- sob a garra dos pés a fraga dura,
e o bico a picar estrelas verdadeiras...

Miguel Torga